quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Com estratégias de marketing de sucesso, EUA alcança desenvolvimento incrível no "soccer"





Este post é o segundo de uma série de reportagens sobre a evolução do soccer. Se você não leu a primeira postagem, clique aqui.

A impressão que ficou durante a Copa do Mundo de 2014 é real: os americanos estão sim mais interessados pelo futebol jogado com os pés. Mas apesar de só ter sido notada pelo Brasil recentemente, a paixão já vem crescendo há tempos no país onde o "football" é um esporte jogado com as mãos. Enquanto pelos mais variados motivos os brasileiros perdem interesse no campeonato nacional, o resultado positivo do empenho dos americanos pode ser visto nos campos e arquibancadas e comprovados pelos números da Major League Soccer (MLS).

Torcida americana invadiu cidades do Brasil na Copa do Mundo



A reviravolta relacionada ao futebol começou em 2007, quando um ano após uma participação desastrosa dos EUA na Copa do Mundo da Alemanha, o Los Angeles Galaxy anunciava uma transferência galática. Era a chegada de um campeão da Champions League, hexa-campeão da liga inglesa (Manchester United) e campeão da liga espanhola (Real Madrid), a celebridade inglesa David Beckham. A presença do galã impactou o "futebol americano" de modo inclusive a interferir no regulamento da liga americana, mas o principal objetivo da contratação do exímio cobrador de faltas era impulsionar o esporte no país.

Em certa medida, a estratégia pode ser comparada à ida de Pelé para o NY Cosmos, em 1975, quando havia menos de 10 anos de uma tímida popularização do futebol profissional no país. Após o Rei, grandes craques da época, embora em idade mais avançada, também rumaram para os Estados Unidos, como Yohan Cruyff, Geroge Best e Rodney Marsh. Alguns, inclusive, foram parceiros de Pelé na equipe novaiorquina, como o também brasileiro Carlos Alberto Torres, Franz Beckenbauer e Giorgio Chinaglia.

Pelé e Chinaglia (9), duas das estrelas do NY Cosmos em 1977


Para o jornalista da ESPN-BR Leonardo Bertozzi, esta relação entre Pelé e Beckham representa um avanço na percepção de mercado do soccer:

- A passagem de Pelé pelos Estados Unidos foi um fato histórico, porém naquela época não havia um plano sustentável para o desenvolvimento do futebol no país. Mas temos que lembrar que não há nenhum termo de comparação entre os dois atletas que não seja o terreno do marketing - brinca o especialista. - Neste aspecto, sem dúvida a contratação de Beckham mostrou que havia não só um projeto sério por trás da MLS, mas também o interesse em internacionalizar a liga.

David Beckham faturou a MLS Cup 2011 pelo LA Galaxy

Da mesma maneira que há quase 40 anos atrás, a chegada de grandes nomes nos Estados Unidos se seguiu à transferência de uma estrela. E vários jogadores de destaque estão atuando nos EUA no momento, após o fenômeno Beckham. Somente neste ano vimos a transferência de três jogadores famosos para dois clubes americanos que ainda nem estrearam: o espanhol David Villa e o inglês Frank Lampard foram para o New York City FC, e o brasileiro Kaká, para o Orlando City SC. Sem falar que antes disso, outros jogadores como o artilheiro francês Thierry Henry, o zagueiro ex-Barcelona Rafa Márquez e o próprio goleiro brasileiro na última Copa, Júlio César, entre tantos outros jogadores internacionalmente famosos, já tinham dado as caras em solos americanos.

E a Major League Soccer não para de crescer. Além do NYC FC e do Orlando City, que começam a disputar o torneio somente a partir da temporada que vem, mais clubes irão se juntar à liga nos anos seguintes. O próximo time já confirmado e com estreia marcada para 2017 ainda não tem nome, mas é de Atlanta, na Georgia, e pertence ao dono do time de futebol americano da cidade, que disputa a NFL, Arthur Blank. Em fase final de concepção, mas dependendo de um projeto de construção de estádio para ser aprovado, uma futura franquia em Miami pode ser o 22º time na liga. A equipe tem tudo para ser mais um sucesso, uma vez que seria comandada por um consórcio formado por nada menos que o dono do clube boliviano Bolívar, Marcelo Claure, o multi empresário e produtor de programas de TV como American Idol e X Factor, Simon Fuller, e o próprio David Beckham.

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Para o comissário da MLS, Don Garber, isso ainda não é o bastante: ele defende que a liga tenha 24 times até 2022. Esta projeção causa receio em algumas pessoas porque vai de encontro à lógica dos maiores torneios do mundo, que não têm mais do que 20 clubes na primeira divisão. Porém, para a outra parte dos especialistas, como Leonardo Bertozzi, o caso específico dos Estados Unidos requer adaptações, da mesma maneira que o soccer tem se enquadrado ao futebol jogado a nível internacional.

- No início do futebol nos EUA, havia cronômetro regressivo e não havia empate, as partidas eram desempatadas com o shoot-out em vez de pênaltis, uma espécie de mano a mano com o goleiro, para se aproximar aos esportes americanos. Aos poucos a MLS foi se encaixando no futebol que o restante do mundo joga. O próximo passo é o fim dos jogos em datas FIFA, quando as seleções jogam.

Kaká com o dono brasileiro do Orlando City, Flávio Augusto (d)

Ao que tudo indica, as estratégias recentes para a internacionalização da MLS têm gerado resultado, principalmente porque os grandes jogadores atraem a atenção de seus países de origem, como Inglaterra, Espanha e também Brasil. No país do futebol, o interesse motivou até mesmo a criação de um fã-clube da liga, a MLS Brasil, que mesmo sem ser oficial tenta popularizar o campeonato no país. Criado em julho de 2007, o site é referência no país por revelar, em português, as novidades sobre a liga em primeira mão.

O setorista responsável pelos clubes canadenses na MLS Brasil, Flávio Fernandes, de 19 anos, concorda com Bertozzi sobre a expansão de times. Para ele, o modo singular do torneio, disputado entre as conferências, como ocorre também na NBA, não só permite que a liga tenha mais clubes que o convencional como também é um dos fatores que desperta interesse.

- A divisão em conferências, que levam à fase dos play-offs é um grande diferencial. E também não há rebaixamento, o que possibilita um grande número de times. Esses são uns dos resultados das estratégias de marketing, o que contribuiu pra eu me atrair pela MLS - revela Fernandes. Ele ainda lista outros fatores que, aliados a esses, chamaram a atenção dele e de muitos novos torcedores recentemente, porém considera um outro aspecto como o primordial - A campanha dos EUA na Copa, a participação de jogadores brasileiros como Júlio César e outros craques, a excelente média de público nos estádios... Mas a maior parte dos méritos é mesmo do desenvolvimento interno do futebol no país.

Não perca a próxima reportagem sobre a evolução do soccer: O futebol nos EUA é mais do que só a MLS

Veja um vídeo arrepiante da comemoração dos americanos no gol que deu a vitória aos EUA contra Gana na estreia na Copa do Mundo:


Quer ver mais vídeos da torcida americana?

6 comentários:

  1. achei super interessante e mandou muito bem na pesquisa!

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  2. Adorei a reportagem! Moro nos Estados Unidos e realmente vejo o interesse pelo "soccer" crescendo cada vez mais nas pessoas de lá. Quem sabe não vão começar a reconhece-lo como o verdadeiro futebol? Haha.

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    1. Tomara hehehe é bem melhor do que o futebol americano, que tá mais pra handball

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  3. Guilherme G. Carrapito24 de setembro de 2014 às 18:53

    Não dou 2 Copas do Mundo para os EUA se estabelecerem como uma das seleções recorrentes entre os 8 melhores.

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    1. Nessa Copa só não ficaram por pouco! Imagina se não perde da Alemanha na fase de grupos, ia cair na chave do Brasil e ter que passar só da Argélia, já teria sido melhor. E aí quem sabe se vencesse da França iria pegar o Brasil...

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